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APROVAR OU NÃO APROVAR? O Conselho de Classe Resolve!
























O Conselho de Classe é o órgão colegiado, de caráter consultivo e deliberativo, que avalia o aproveitamento, o desempenho e os problemas de aprendizagem dos alunos. Geralmente, as reuniões do Conselho acontecem ao final do ano letivo, quando, na verdade, deveriam integrar o programa sistemático de avaliação da escola. Há escolas que, sabiamente, procedem as avaliações coletivas antes da divulgação dos resultados oficiais. Por que não realizar reuniões regulares do Conselho ao final de cada etapa avaliativa?

“Conselho”, uma expressão latina que se origina de “consilium”, se identifica com “conselheiros”, aqueles que desenvolvem análises e deliberações que promovem a paz e a harmonia da coletividade. Conselho não é um tribunal, muito menos um júri ou julgamento. Mesmo quando os concílios fazem resoluções firmes ou severas, o objetivo é sempre a conciliação.

Além do mais, além de aprovar ou reprovar alunos, o Conselho de Classe deveria desempenhar um papel educativo e construtivo na escola, enriquecendo e transformando as práticas pedagógicas. Eis algumas questões para a nossa reflexão e aperfeiçoamento de nosso trabalho:

AVALIAÇÃO: QUALITATIVA OU QUANTITATIVA?
Define a LDB (Nº 9.394/96, Art. 24, V, letra a) que a verificação do rendimento escolar acontece por meio de avaliação contínua e cumulativa do desempenho do aluno, com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos. Aqui reside o entrave de muitas escolas. Mesmo sem admitir, há escolas ainda aprisionadas ao antigo modelo de avaliação quantitativas. A força do hábito e da tradição impõe a algumas escolas a quantificação dos resultados, até mesmo as avaliações qualitativas são mensuradas e pontuadas.
Afinal, para que servem as avaliações? Não se discute aqui o “por quê” das avaliações, mas “para quê” (objetivo) ou “como” avaliamos (forma). Há um processo vicioso de “pergunta-resposta” que não estimula, nem prova a aprendizagem. E “pegadinhas” que para nada servem a não ser “provar” a paciência e a emoção do aluno, e a incompetência ou despropósito do professor. Ensina a Prof. Zita Ana Lago Rodrigues um tipo de avaliação centrada no interesse do aluno.
O Conselho de classe resgata os aspectos qualitativos das avaliações e corrige distorções de alguns processos viciados da escola, e avalia o potencial e as condições do aluno de se matricular na série ou ano seguintes. Nem mesmo a (in)disciplina do aluno é determinante neste tipo de avaliação; as decisões são feitas por critérios puramente qualitativos!

UM FÓRUM DISCIPLINAR OU MULTIDISCIPLINAR?
As avaliações do Conselho tendem a ser muito ricas por proporcionar um diálogo interdisciplinar. A análise também prioriza as competências e habilidades dos alunos. E ainda, percebe-se que cada pessoa possui algum tipo de dificuldade, seja de conteúdo ou com alguma disciplina. E constata-se que que “ninguém é bom em tudo”. Os conselhos constituem um fórum de sábios docentes que compartilham vivências e trocam experiências. Promove-se, então, uma “boa” discussão interdisciplinar que agrega valor ao currículo da escola, onde este exercício deveria ser frequente e contínuo na busca da ruptura das barreiras entre os saberes até que chegue a ideal transdisciplinariedade!

AVALIAÇÃO DO ALUNO, DO PROFESSOR OU DA ESCOLA?
Na escola que cresce não se avaliam apenas os alunos. Professores e mesmo a equipe pedagógica também são avaliados. O conselho deve desenvolver a reflexão e avaliação do trabalho dos docentes, seja individual (auto avaliação) ou coletivamente (troca de experiências). Há escolas que convidam alguns alunos para participar da avaliação do trabalho educacional, por meio fichas que revelam o desempenho dos professores e da instituição.
Observa o Prof. Pedro Demu:
“ Assim, se pratico alguma forma de questionamento, não posso impedir que me questionem, porque, se assim fizer, estou menos destruindo o diálogo com o outro do que desfazendo meu próprio chão de questionamento. Da mesma forma, se avalio, não posso impedir que me avaliem, pois, avaliar e ser avaliado fazem parte da mesma lógica. Como decorrência, quem foge da avaliação perde a autoridade de avalia”
E, acrescenta que quem deve ser mais e melhor avaliado é o “chefe” para que tenha “condições mínimas, formais e políticas, para avaliar”. No Conselho pode-se questionar: “onde falhamos”? “O que devemos mudar em nosso trabalho docente”? Nesta hora, o conselho pode elaborar e implantar novas ações ou soluções estratégicas para o aprimoramento do trabalho. Ao atualizar suas práticas, o Conselho pode resignificar e replanejar as suas ações educativas.


O QUE MAIS?

Para lograr êxito em seus objetivos, não convém às reuniões do Conselho de Classe:

Queixas e desabafos pessoais
Não é hora de reclamar, lamuriar ou vitimar-se. Questões pessoais ou particulares devem ceder lugar aos estudos coletivos que fortalecem o corpo docente. Todos precisam atuar com sabedoria e discrição em suas ponderações;

Julgar ou analisar criticamente o aluno ou a sua família
Na reunião, os comentários da vida pessoal do aluno e de sua família são menos importantes do que a sua vida escolar ou acadêmica. Então, não é prudente se concentrar nos defeitos ou falhas do aluno, mas sim em suas habilidades e potencialidades;

Tomar a parte pelo todo
Destacar uma experiência negativa do aluno, dando um zoom no problema não agrega nenhum benefício à discussão. Exceto, quando se trata de uma grave ou traumática experiência que trouxe mudanças em seu comportamento. Deve-se avaliar o todo, ou todo o período da vida escolar.

Desprezar o serviço de orientação educacional
Nas reuniões, os registros e informações do orientador que acompanha o dia-a-dia dos alunos e a leitura dos aspectos emocionais ou sociais, afetivos e familiares, do educando são decisivos para as deliberações do conselho;

Divulgar comentários e resultados da reunião
No conselho não há espaço para fofocas. E fora das quatro paredes, jamais de divulga as falas dos participantes. Primar pela discrição e sigilo das informações é fundamental para nada “vazar” na comunidade. Os ausentes à reunião também não têm direito às informações. Cuidado com fichas de avaliação ou anotações dos professores que se perdem ou se esquecem na sala de reunião. Somente o diretor e a equipe, ou a secretária da escola, são designados como os únicos autorizados a divulgar os resultados, se possível, pessoalmente e junto com os pais ou responsáveis.

Ignorar os registros documentais
Tanto a secretaria da escola quanto o Conselho precisam documentar fatos por meio de registros próprios. Incluindo os atendimentos feitos ao aluno e as reuniões com a família. Recomenda-se aos orientadores e gestores a lavratura de atas, com a assinatura dos alunos e pais. E as reuniões devem ser documentados por meio da lavratura de atas com a resoluções do Conselho e as assinaturas dos presentes.

Enfim... o Conselho de Classe é um verdadeiro Consilium, um encontro de sábios conselheiros. 

Recorda-se, então, a preciosa lição ensinada pelo sábio rei Salomão:
“Não havendo sábios conselhos, o povo cai, mas na multidão de conselhos há sabedoria"
(Provérbios 11:14)

REFERÊNCIAS

* DEMU, Pedro. A Nova LDB. Ranços e Avanços. Campinas, SP: Papirus, 1997.

* RODRIGUES, ZITA Ana Lago. A Avaliação Centrada no Interesse do Aluno na Construção de  Novos Conhecimentos e na Interação Professor-Aprendiz. IN.: WAJNSZTEJN, Alessandra Caturani et al. Desenvolvimento Cognitivo e Aprendizagem Escolar: O que o Professor deve dominar antes de ensinar bem? Curitiba, Editora Melo, 2010.

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