- “Eu daria tudo o que pudesse pra voltar aos dias de criança...”
Ah! Que bela e saudosa canção dos bons tempos que não voltam mais. Ataulfo Alves relembrou os seus gostosos dias e sabiamente questionou: “eu não sei por que a gente cresce se não sai da gente esta lembrança”. Afinal: “Por que a gente cresce?” É triste observar que a medida que o tempo passa, a gente também passa e muda, tantas vezes, ficando pior.
A vida é feita de constantes cobranças. Desde quando a gente nasce somos cobrados. Mães apressam os filhos em seu desenvolvimento e ai da criança se “atrasar” um pouquinho. Na escola, pais prejudicam os filhos e até se orgulham quando eles queimam etapas. Até mesmo professores cobram das crianças: “quando é que você vai crescer”? Por que será que tantas crianças amadurecem prematuramente, como meninas que se tornam mulher aos 08 anos de idade?
Cobra-se também do adolescente que nem consegue curte esta gostosa fase da vida. Gente desqualificada chega a chamá-lo de “aborrecente”. Quanta ignorância! Posteriormente, cobra-se dele passar no vestibular; brilhar na faculdade; e finalmente conquistar o melhor emprego para ganhar mais no competitivo mercado que cobram cada vez maiores resultados dos trabalhadores.
Na vida sentimental, cobra-se conquistar alguém para ser feliz! - “Você precisa arranjar um namorado!”- cobra a mãe desesperada com o futuro da filha. Depois, cobra-se o noivado, depois o casamento, depois os filhos, os netos... ultimamente, já se cobra um novo casamento.
Que dura caricatura da vida: a criança nasce, cresce, estuda, trabalha e consome, namora e casa, constrói, cria a família, corre a vida toda e depois... Às vezes, quando se tem a chance do “depois” já é tarde demais. Lembrava o sábio Moisés que neste caso só existe “canseira e enfado”.
Neste mundo de tantas cobranças, a gente termina por perguntar: “quando é que a pessoa vai viver?”
Na contramão desta estrada, enquanto o mundo diz ao menino: “faça-se homem”; o Mestre dos mestres ensina ao homem: “faça-se criança”! E acrescenta: “das crianças é o reino dos céus. Quem não se fizer criança não entrará no reino dos céus”.
A criança é simples, pura de alma e de coração, desprovida das ambições comuns da vida. É curiosa, ingênua, inocente. Não guarda mágoa, ódio, rancor, ira. Como um anjo, vive sorrindo, cheia de graça, comunicando alegria, satisfação, vitalidade. A criança não olha a cor da pele, não sabe o que é classe social, muito menos, condição financeira, status, poder. A criança brinca, saltita, canta, dança, faz travessuras. A criança é sempre feliz!
Por isto, nesta semana da criança, deveríamos despertar a nossa criança adormecida. Na aula de hoje, usamos a música como recurso - é uma das preciosas linguagens da criança - e deveríamos cantar como Gonzaguinha:
"Eu apenas queria que você soubesse/ Que aquela alegria ainda está comigo/
E que a minha ternura não ficou na estrada/ Não ficou no tempo presa na poeira.
Eu apenas queria que você soubesse/ Que esta menina hoje é uma mulher
E que esta mulher é uma menina/ Que colheu seu fruto flor do seu carinho...
... Eu apenas queira que você soubesse/ Que essa criança brinca nesta roda
E não teme o corte de novas feridas / pois tem a saúde que aprendeu com a vida”.
Nesta semana, deveríamos resgatar a alma da criança em nós. Aprender a olhar a vida com olhos puros e o coração infantis. Por que levar a vida tão a sério? Por que não aproveitar melhor a vida para brincar divertir-se, sorrir, amar a Deus e aos outros? “Os Saltimbancos”, peça musical de Luiz Enriquez, Sergio Bardotti e Chico Buarque, baseada na fábula dos Irmãos Grimm, descreve a cidade ideal em que todos seriam crianças:
“Deve ter alamedas verdes
A cidade dos meus amores
E, quem dera, os moradores
E o prefeito e os varredores
E os pintores e os vendedores
As senhoras e os senhores
E os guardas e os inspetores
Fossem somente crianças”.
Nesta semana, conclamamos aos pais, aos professores, aos adultos, para que não permitam que as suas crianças cresçam com os modelos adultos desta sociedade louca e infeliz. Ah! se gente grande soubesse... cantaria com o paraense Billy Blanco, encarnando a voz da criança:
“Se gente grande soubesse
O que consegue a voz mansa
Como ela cai feito prece, vira flor
No coração de criança.
A gente grande que tira o meu brinquedo da mão
Tirou de um musico a lira, e interrompeu a canção.
De tanto NÃO que eu escuto um NÃO eu vivo a dizer.
Se eu não sossego um minuto é natural, eu não parei de viver.
Agente apenas repete tudo o que escuta e que vê.
Pois gente grande eu queria ser um dia, todo igualzinho a você”.
Esta página é dedicada às "crianças" de todas as idades que são ETERNAMENTE CRIANÇAS!
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