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O SENHOR PRECISA DELE

 

O SENHOR PRECISA DELE

Lucas 19.28 a 40

O calendário litúrgico de hoje nos remete ao início da semana da paixão de Cristo. É a última e derradeira semana de Cristo na terra.  Hoje é o DOMINGO DE RAMOS! Uma importante data desta semana, mas principalmente da história da Salvação.

A Procissão de Ramos é um evento messiânico em que Jesus se apresenta publicamente. Além de cumprir a profecia, Ele desafia os poderosos de seu tempo apresentando-se como “Senhor dos senhores” e “Rei dos reis”. Ele chegou na capital do poder e como diz a gíria “chegou causando” grande tumulto, enorme preocupação e uma verdadeira revolução religiosa na história da humanidade. 

Enquanto os poderosos se impõem pela força e autoridade, Jesus cativa, atrai, inspira as pessoas com gestos de amor, demonstração de empatia e pregando uma mensagem alvissareira para toda a casa de Israel. Os poderosos exigem impostos, exploram o povo, agem com violência. Enquanto isto, o rei Jesus se infiltra no meio da multidão e por se identificar com a necessidade do povo e principalmente com o problema de cada um, conquista reações espontâneas e sinceras dos seus seguidores. 

Após dois mil anos, a sua mensagem rasga o tempo e o espaço e invade a nossa História com o mesmo desafio de tempos atrás. Em sua humildade e amor, ainda ouvimos a sua voz convidativa e desafiadora dizendo: “O Senhor precisa dele”! O Senhor precisa de cada um de nós! E quem somos nós no projeto do Reino de Deus?

(Para ouvir durante a mensagem)

https://www.youtube.com/watch?v=rBcwmuGiIUg


O TEXTO

Devido à sua importância no contexto evangélico, a Procissão de Jerusalém encontra-se registrada nos quatro Evangelhos (Mateus 21; Marcos 11; Lucas 19; e João 11). A cidade de Jerusalém se envolve em um evento da maior importância na história da Salvação. É um acontecimento que marca a última semana de Jesus na terra. Contém uma mensagem vital para a fé cristã mas que também afeta e até abala diretamente os poderosos de seu tempo. Para desespero do império e do sinédrio, e para as forças políticas ou religiosas, a vinda do Messias é real e verdadeira, e agora reconhecida e exaltada pelo povo. 

Vale recordar que na 6ª feira anterior ao domingo de ramos, Jesus esteve em Betânia. Possivelmente hospedou-se na casa de seus amigos Maria, Marta e Lázaro. Ele viaja domingo de manhã para Jerusalém. Uma curta distância de mais ou menos 3 Km que percorre tranquilamente à pé.

Próximo ao Monte das Oliveiras, em Betfagé, Jesus envia Pedro e João para buscar um jumentinho. A história bastante conhecida se desenvolve conforme os mínimos detalhes planejados por Jesus. Ninguém questiona, nem discute. Apenas obedece! E a manifestação alegre e espontânea marca e “tumultua” a cidade de Jerusalém, centro do poder político e religioso. 

Esta mensagem chama a nossa atenção para uma expressão que se repete nos evangelhos sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas): “O SENHOR PRECISA DELE!” Claro que Deus não precisa de ninguém! Ele é o Deus Todo Soberano do nada tudo fez. Ele criou o universo macro com milhões de planetas e os micro organismos não vistos a olho nu. Ele basta-se a si mesmo. E tem todo o poder sobre os céus, terra e mar. Ele domina e controla o cosmos. E dispões de recursos inesgotáveis. Porém, o sentido da expressão – “O Senhor precisa dele” é um gesto do carinho e amor da providência do Deus para conosco. Tem o seguinte significa: “O Senhor conta conosco”! 

Afinal, Ele conta sempre com você? O que esta expressão nos ensina?

1. Somos colaboradores do reino

O plano de Jesus descrito em seus detalhes contém inúmeros verbos que demandam ação. Observemos no texto que são ordens de Jesus para os seus discípulos. Ele tem sim todo o poder nos céus e na terra. E conclama os seus discípulos para participar de sua obra. E os discípulos participam de tudo. E seguem toda as orientações do Mestre, colaborando com o plano de Jesus!Em muitos e importantes momentos da história da salvação os anjos são convocados para missões específicas. Agora, Jesus chama os seus discípulos, dá as suas ordens e eles se engajam nos desafios do reino.

Como é bom saber que Jesus sempre conta conosco para a realização de sua obra. E é sempre motivo de grande privilégio servir ao Senhor e colaborar com a sua obra. Recordamos que Ele chamou e capacitou os seus discípulos como cooperadores. Por exemplo: na multiplicação dos pães, Ele fez o milagre e poderia agir sozinho. Ele teria condições de fazer com que cada recebesse do nada, vindo dos céus, o seu “sanduíche de atum” (pão e peixe). No entanto, a cena é uma das mais movimentadas dos evangelhos. Os discípulos se cansam de tanto trabalhar. Desde a pesquisa das possibilidades de alimentação do povo ao lanche do menino, até organizar e servir toda a multidão, os discípulos se envolvem na obra. E para finalizar Jesus coloca um cesto na mão de cada discípulo ensinando a lição da boa economia que não aceita desperdício. Ele podia fazer e agir sozinho, mas sempre prefere contar com os seus discípulos.

Enquanto Jesus prefere contar com os seus discípulos, quanta gente há por aí que prefere ficar de braços cruzados esperando um milagre dos céus. É um privilégio seguir e servir à Cristo. E Deus tem um plano para cada criatura! Será que já encontramos e descobrimos o nosso propósito de vida? Sabemos qual é a nossa missão?

A sabedoria popular ensina que “quem não vive para servir, não serve para viver”. Ao invés de pensarmos em nós mesmos, deveríamos abrir a mente e o coração e perguntar: qual a missão ou serviço que Deus espera de mim neste mundo? Até mesmo na igreja, não deveríamos perguntar o que a Igreja faz por nós, mas sim, perguntar: O que podemos fazer para a igreja, que é uma agencia do reino?

A bela poesia de Annie J. Flint diz:

“Cristo não tem mãos senão as nossas

Para fazer a sua obra hoje;

Cristo não tem pés senão os nossos

Para levar os homens ao seu caminho;

Cristo não tem língua senão a nossa

Para contar aos homens como morreu;

Cristo não tem auxílio senão o nosso

Para trazê-los ao seu lado”.

E Jesus está a nos perguntar:

 “Morri na cruz por ti; que fazes tu por mim”?

2. Somos adoradores do reino

O texto ensina que tudo o que os seguidores de Jesus fizeram naquele domingo tinha um único objetivo: “glorificar a Cristo”; “exaltar o Senhor”; “cantar hosanas”, “louvar ao Messias quem vem em nome do Senhor”.Temos ciência de que há uma dimensão política na ação de Jesus, pois Ele confronta os poderosos de seu tempo. 

O respeitado teólogo contemporâneo Oscar Culmann escreveu duas obras clássicas em que aborda de forma distinta as relações de Jesus com os poderosos de seu tempo. Em “Cristo e Política” e “Cristo e o Tempo”, Culmann mostra as tensões e implicações dos aparentes e simples eventos registrados no Evangelho. Na verdade, nos bastidores do ministério de Jesus corriam grandes preocupações que abalavam a estrutura político-religiosa da época. Porém, para as pessoas simples que se manifestavam com a fé e a singeleza de seus corações a única motivação era glorificar ao Senhor Jesus.

E Jesus aceita o louvor da multidão porque as expressões são sinceras e legítimas. Elas nascem do coração e da alma do povo. E ainda que tinha ciência da incoerência do povo que na mesma semana o trocaria por Barrabás e haveria de crucificá-lo, Ele recebe a glorificação de povo. A mensagem que vem ao nosso encontro é a lição de que tudo o que temos e somos pertencem ao Senhor deve ser feito para o louvor de Sua glória. Até mesmo nas questões simples do dia-a-dia, no trabalho, em casa, dos nossos relacionamentos, Deus deve ser glorificado. Para o cristão, não existe a dualidade de que uma coisa é do mundo e outra é de Deus. Tudo só existe unicamente para a glória de Deus! 

Conforme ensinou o apóstolo S. Paulo:

“Assim, seja comendo, seja bebendo, seja fazendo qualquer outra coisa, fazei tudo para glória de Deus” (I Coríntios 10.31);
“E tudo quanto fizerdes, seja por meio de palavras ou ações, fazei em o Nome do Senhor Jesus, oferecendo por intermédio dele graças a Deus Pai” (Colossenses 3.17)

3. Somos mensageiros do reino

A “Semana Santa” começa com LOUVOR & ANÚNCIO. A procissão de Jerusalém pretende mostrar em alto e bom que Ele é o Único Senhor e Salvador, Ele é o “Rei dos reis” e o “Senhor dos senhores”. Por isto, aos que questionavam ou contestavam a homenagem, Jesus diz: “asseguro-vos que, se eles se calarem, as pedras clamarão”! A proclamação da mensagem poderia ser feita por anjos, como já aconteceu. Porém, Deus nos concede o privilégio de ser os mensageiros da paz, da salvação, da vida nova.

Os discípulos de Jesus não podem se calar jamais. Quantas vezes, a igreja se silencia. Os pregadores anunciam a mensagem da conveniência e se calam face aos muitos desafios do reino. Quantas vezes, a mensagem se deturpa ou se deforma por interesses vários. E ainda, quantas vezes, a igreja se desvia de sua missão anunciando “outras mensagens” que não o puro e santo evangelho de Jesus. Não é por acaso que a igreja sofre de grande descrédito em nossa sociedade, ocupando-se mais em discutir doutrinas e dogmas ou preocupando-se por demais com seus eventos sociais e internos, perdendo a visão e desviando-se de sua missão no mundo. Outras horas se concentra em sinais, milagres, maravilhas, shows, eventos, e se esquece de anunciar a mensagem salvadora e transformadora do Evangelho. Por isto, disse o apóstolo S. Paulo: “ai de mim se não pregar o Evangelho”! (I Coríntios 9.16).

 Questões para a nossa reflexão e ação: 

(1) O que Deus nos confiou? 

Deus tem um plano para cada criatura. Nesta vida, Ele nos confiou uma missão, uma obra inadiável e intransferível. E para tal, Ele nos capacitou com dons, talentos, habilidades. Ele colocou algo em nossas mãos. O que Ele pede de cada um de nós neste dia, nesta semana, nesta vida? Temos consciência de nossa missão nesta vida? 

(2) O que temos feito com o Deus nos confiou?

Deus espera algo de nós. E vezes sem conta, enterramos talentos, como Jesus ensinou na Parábola dos Talentos. Outras vezes, estamos fugindo como fez Jonas que não queria ir para Nínive e tomou o caminho para Társis. Também inventamos nossas desculpas e justificativas para adiar nossa atuação. Ou estamos aguardando o momento X ou Y para cumprirmos a nossa missão. Lembremo-nos da palavra do pensador inglês Charles Kingsley:

“Tenha pronta as suas ferramentas, Deus lhe apresentará o serviço”

(3) Como fazemos o que Deus nos confiou?

Não basta ter consciência e cumprir a nossa missão. Tudo o que fazemos depende também da “forma” como fazemos. No reino não podemos nos contentar com “o mais ou menos tá bom”! Deus sempre merece o melhor de nós. Orientando o povo na forma de executar seus serviços, o profeta ensinou: “Ai daquele que fizer a obra do Senhor relaxadamente” (Jeremias 48.10).O que desenvolvemos dever ser feito com amor e dedicação. Ensinou Salomão: “Tudo quanto te vier à mão para fazer, faze-o segundo as suas forças”… (Eclesiastes 3.10).

FINALMENTE…

  • Ore ao Senhor para Ele lhe mostre qual é o seu lugar no reino, qual é a sua missão

  • Envolva-se mais nos desafios do reino. Não aceite ser mero expectador; mas alguém integrado no reino de Deus e na sua justiça
  • Sirva ao Senhor sempre! Servimos ao Senhor em toda parte, em todo lugar! Precisamos de gente comprometida com Deus nos diferentes espaços do mundo e da vida!

“O Senhor precisa dele”! O Senhor conta com cada um de nós! Que Ele nos nos abençoe!

  • Rev. Wilson EMERICK - Presbitério de Campinas (IPB)

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